Dia 11 de outubro
MEMÓRIA DE SÃO JOÃO
XXIII
e dos 61 anos da
ABERTURA DO CONCILIO VATICANO II
REVISTA FAMILIA CRISTÃ
Edição: Julho/2012
Seção: Vaticano II
Toques: 2.066
Autor: Padre José Oscar Beozzo
Título: Abre-se o Concílio 2
Ao cair da noite: “Guardate la luna”!
Uma
procissão luminosa percorreu as ruas de Roma na noite daquele 11 de outubro, dia
da abertura do Vaticano II.
Queria
recordar, assim, a espontânea e entusiástica homenagem que, ao final do
Concílio de Éfeso (431), o povo da cidade, numa alegre procissão, à luz de
tochas, prestara a Maria, proclamada pelo Concílio, “Teótokos”,
Mãe de Deus.
João
XXIII havia escolhido de propósito esta festa da Maternidade de Maria, para a
abertura do Concílio e agora, diante daquele mar de velas acesas que invadira a
Praça de São Pedro e suas ruas adjacentes, assomou ao balcão dos aposentos
pontifícios para abençoar a multidão:
Olhai a lua!
Esta se
levantava no horizonte, iluminando a noite. O Papa emocionado dirige-se ao povo
e brota dos seus lábios, inteiramente de improviso, um segundo discurso de
abertura do Concílio, diferente daquele da manhã longamente meditado e
amadurecido e dirigido aos cardeais, patriarcas, bispos e aos grandes da terra.
Naquele
cair da noite, volta-se para o povo
miúdo da cidade saído dos bairros populares e para os peregrinos do mundo todo
que haviam acudido a Roma para a abertura do Concílio.
Inicia
um diálogo com a multidão:
Caros filhos, escuto suas
vozes. A minha é uma só, mas retoma as vozes todas do mundo; e aqui de fato o
mundo está representado. Dir-se-ia que até a lua se apressou nesta noite…
Observai-a no alto a contemplar este espetáculo… Concluímos uma grande jornada
de paz… Sim, de paz: “Glória a Deus e paz aos homens de boa vontade”.
A minha pessoa nada conta: é
um irmão que fala a vocês, um irmão que se tornou pai pela vontade de Nosso
Senhor… Continuemos, pois, a nos querer bem deste modo no encontro: tomar
aquilo que nos une e deixar de lado, alguma coisa que possa nos colocar em dificuldade…
Voltando para casa, vocês
encontrarão as crianças. Façam-lhes uma carícia e digam-lhes: “Esta é a carícia
do Papa”. Encontrarão talvez alguma lágrima para ser enxugada. Tenham para quem
sofre uma palavra de conforto. Que saibam os aflitos que o Papa está com seus
filhos, especialmente nas horas de tristeza e amargura…
E, então, todos juntos nos
amemos: cantando, suspirando, chorando, mas sempre cheios de confiança no
Cristo que nos ajuda e nos escuta, retomemos nosso caminho.
Adeus, filhinhos!
Acrescento à bênção o augúrio
de boa noite (DCM IV
592-593).
Nas anotações desse dia: Fiat voluntas tua.
Terminado
aquele dia memorável e cheio de emoções, o Papa, que acabara de ser prevenido por seu médico, poucos dias antes,
acerca da grave enfermidade, que o acometera e que o levaria à morte, faz serena
entrega de sua vida a Deus. Este lhe permitira abrir o Concílio, mas certamente
lhe pediria que o entregasse ao seu sucessor, para seu prosseguimento e
conclusão.
Escreve
o Papa em sua agenda:
11 de outubro – quinta-feira.
Esta jornada assinala a solene
abertura do Concílio Ecumênico. A notícia está em todos os jornais e, em Roma,
nos corações exultantes de todos. Agradeço ao Senhor por não fazer-me indigno
da honra de abrir, em seu nome, este início de grandes graças para sua Santa
Igreja
Ele dispôs que a primeira
centelha que preparou durante três anos este acontecimento tivesse saído da
minha boca e do meu coração.
Estava disposto a renunciar
também à alegria deste início.
Com a mesma tranquilidade repito
o “Fiat
voluntas tua” [seja feita a tua vontade],
a respeito do manter-me à frente deste primeiro posto de serviço, por todo o
tempo e em todas as circunstâncias de minha humilde vida, e acerca do sentir-me
obrigado, a qualquer momento, a passar ao meu sucessor esta tarefa de proceder,
continuar e concluir [o concílio].
Fiat
voluntas tua, sicut in coelo et in terra [Seja
feita a tua vontade, assim na terra, como no céu] (Mt 6, 10)” (Roncalli G. Pater Amabilis, Agende del Pontefice:
1958-1963, p. 441).
Padre José Oscar Beozzo
é estudioso da história da Igreja Católica na América Latina, Coordenador Geral
do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular/CESEEP e
vigário da Paróquia de São Benedito, na diocese de Lins (SP).
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